terça-feira, 30 de agosto de 2011

Uma dúvida...



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A dificuldade na construção de um Direito à Memória na América Latina, efetivamente preocupado COM TODAS AS VIOLÊNCIAS ACEITAS OU PRATICADAS PELO ESTADO, não passa pelo mesmo problema de apego a velhas lógicas e insuspeitos métodos?

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O embate entre os "defensores" e os "críticos" da retomada do passado não se alicerça, apenas, em compreensões dicotômicas da realidade, como se todo o processo político pudesse ser subsumido a uma realidade previamente concebida e aceita como possível?

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Por que não atribuir à memória um caráter aberto e inclusivo, destinado a congregar todos os debates e quaisquer relatos possíveis?

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Afinal, a memória política responde a todas as violências ou, ao contrário, responde invariavelmente a uma lógica própria em que interessam apenas algumas vítimas e não todas?

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vídeo do post: trecho do filme de Herzog, que retrata a história de Kaspar Hauser.
Fonte: youtube

A memória: novos e velhos questionamentos

A pergunta ainda latente e inquieta, que a usual construção política do "Direito à Memória" (e à verdade?),
ao menos no Brasil, vacila ao responder:

a rememoração política destina-se a vítimas específicas e previamente delimitadas ou, ao contrário, alcança toda e qualquer vítima da violência patrocinada ou aceita pelo Estado?

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Mais do que isso: 

Embora a memória seja seletiva (inclusive porque é política em sua essência) isso, por si só, permitiria filtrar qual violência interessa e qual violência não interessa
à afirmação de um Direito à Memória?

Quem tem medo de TODOS os relatos possíveis na dinâmica da memória?

Não seria justamente a totalidade dos relatos possíveis, na seletividade do Direito à Memória, que interessaria à formação de uma memória política efetivamente inclusiva?

...O vídeo abaixo reflete essa problemática...

(todavia, nenhum debate da Comissão de Anistia busca congregar esses relatos, ainda subterrâneos, insistindo, na sua renitência, na velha e excludente repetição da história do progresso, intrinsecamente alheia à aceitação do tempo da memória)




Fonte do vídeo: youtube


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A memória e a verdade no Chile - um levantamente inacabado

Divulgado relatório que dobra número de vítimas da ditadura Pinochet

A Comissão da Verdade do Chile, que investiga os crimes do regime militar do general Augusto Pinochet (1973-1990), duplicou o número de vítimas oficiais com a publicação de um novo relatório nesta sexta-feira, 26. A comissão recebeu 32 mil novas denúncias de violação de direitos humanos e elevou para mais de 60 mil o número de vítimas de Pinochet.  Na lista dos futuros anistiados constam muitos brasileiros, ente eles, o servidor público José Alves Neto (Juca), que trabalhava como soldador no Chile quando houve o golpe militar de 11 de setembro 1973. “Eu já estava me preparando para voltar ao Brasil, mas acabou dando tudo errado. Fiquei dois meses preso e fui expulso do Chile e tive que fugir para a Europa”, contou ao Sul21.

Na época com 19 anos e jovem militante das reformas humanistas, José Alves Neto também teve o amigo, Pedro Alves Filho, e seu pai, Washington Alves da Silva, perseguidos pela ditadura chilena. Para Neto, que já é anistiado no Brasil, receber a anistia do Chile significa recuperar a memória da mais sangrenta e violenta repressão. “Junto com a argentina, a chilena foi a pior das ditaduras na América Latina. O número de pessoas a serem anistiadas é muito grande e a reparação econômica será simbólica. Mas, a reparação moral, onde o estado reconhece os abusos que cometeu, é a mais importante”, disse.

Ele também considerou que a anistia do estado chileno contribui para o esclarecimento da verdade no Brasil. “Os chilenos sabem muito bem o que aconteceu. Lá eles têm consciência da sua história e aqui, ainda precisamos resgatar nossa memória”, comparou.

A Comissão da Verdade sobre Prisão Política e Tortura – conhecida como Comissão Valech em homenagem ao ex-bispo de Santiago Sérgio Valech, que a presidiu até sua morte, foi criada em 2003 pelo então presidente chileno Ricardo Lagos. Em sua primeira fase, o órgão ouviu mais de 35 mil testemunhos de pessoas que sofreram abusos. Em novembro de 2004, Lagos anunciou que 28.459 casos haviam sido qualificados como vítimas oficiais.

Antes da criação da comissão, o Chile reconhecia oficialmente apenas 2.279 mortes nas mãos de agentes do Estado durante o regime de Pinochet, compiladas pelo Relatório Rettig, que resultou dos trabalhos da Comissão da Verdade e Reconciliação de 1991. 
O relatório contabilizou apenas os desaparecimentos e execuções.

A pedido de organizações de direitos humanos, em 2009 o Parlamento chileno reabriu a Comissão da Verdade, recomendando a seus membros que tomassem, durante seis meses, novos testemunhos de vítimas. Mesmo com a nova contagem, organizações de direitos humanos estimam que há muitos casos de abusos sem ser contabilizados.

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Fonte da notícia veiculada no post: Raquel Duarte -Sul21

Imagem do post: Henri Rousseau - Paisagem exótica com macacos e um papagaio, 1908. 
Disponível em henrirousseau.org

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Comissões da Verdade na América Latina






Neste post, a leitura recomendada (embora não se trata de uma leitura "obrigatória") é do artigo intitulado

A tentativa é delinear as inúmeras concepções atribuídas às Comissões de Verdade em países da América Latina, o que permite situar a pertinência dos debates que a esse respeito são travados no Brasil.

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Em tempo: o blog continua aberto a quaisquer contribuições e comentários.

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Imagem do post: 
novamente ele, Jacek Yerka, com sua pintura Krysia's Garden. Disponível no site do artista. (http://www.yerkaland.com)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Uma pergunta apenas




Quais são as (im)possibilidades do Direito à Memória?

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Como situar o Direito à Memória diante do(a):

Perdão

Verdade

Esquecimento

Anistia

Justiça de Transição

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(Imagem do post: Beatriz Milhazes - Palmolive - 2004)

Outra indicação de leitura...



Para os fins dos debates propostos, a leitura recomendada envolve os seguintes artigos:

O perdão e a reconciliação com o passado em Hannah Arendt e Jacques Derrida
(Antônio Leal de Oliveira)

&

 Justiça de Transição e Integração Regional: O Direito à Memória e à Verdade no Mercosul.
(André Vereta Nahoum e Juliana Cardoso Benedetti)

(Imagem do post: Jacek Yerka - Erosion. Veja em: http://www.yerkaland.com)

Indicação de artigo



Direito à Memória versus políticas de esquecimento: o difícil caminho de afirmação da Cidadania.


(imagem do post: Jacek Yerka - The City is Landing. Veja em: http://www.yerkaland.com)