Divulgado relatório que dobra número de vítimas da ditadura Pinochet
A Comissão da Verdade do Chile, que investiga os crimes do regime militar do general Augusto Pinochet (1973-1990), duplicou o número de vítimas oficiais com a publicação de um
novo relatório nesta sexta-feira, 26. A comissão recebeu 32 mil novas denúncias de violação de direitos humanos e elevou para mais de 60 mil o número de vítimas de Pinochet. Na lista dos futuros anistiados constam muitos brasileiros, ente eles, o servidor público José Alves Neto (Juca), que trabalhava como soldador no Chile quando houve o golpe militar de 11 de setembro 1973. “Eu já estava me preparando para voltar ao Brasil, mas acabou dando tudo errado. Fiquei dois meses preso e fui expulso do Chile e tive que fugir para a Europa”, contou ao Sul21.
Na época com 19 anos e jovem militante das reformas humanistas, José Alves Neto também teve o amigo, Pedro Alves Filho, e seu pai, Washington Alves da Silva, perseguidos pela ditadura chilena. Para Neto, que já é anistiado no Brasil, receber a anistia do Chile significa recuperar a memória da mais sangrenta e violenta repressão. “Junto com a argentina, a chilena foi a pior das ditaduras na América Latina. O número de pessoas a serem anistiadas é muito grande e a reparação econômica será simbólica. Mas, a reparação moral, onde o estado reconhece os abusos que cometeu, é a mais importante”, disse.
Ele também considerou que a anistia do estado chileno contribui para o esclarecimento da verdade no Brasil. “Os chilenos sabem muito bem o que aconteceu. Lá eles têm consciência da sua história e aqui, ainda precisamos resgatar nossa memória”, comparou.
A Comissão da Verdade sobre Prisão Política e Tortura – conhecida como Comissão Valech em homenagem ao ex-bispo de Santiago Sérgio Valech, que a presidiu até sua morte, foi criada em 2003 pelo então presidente chileno Ricardo Lagos. Em sua primeira fase, o órgão ouviu mais de 35 mil testemunhos de pessoas que sofreram abusos. Em novembro de 2004, Lagos anunciou que 28.459 casos haviam sido qualificados como vítimas oficiais.
Antes da criação da comissão, o Chile reconhecia oficialmente apenas 2.279 mortes nas mãos de agentes do Estado durante o regime de Pinochet, compiladas pelo Relatório Rettig, que resultou dos trabalhos da Comissão da Verdade e Reconciliação de 1991.
O relatório contabilizou apenas os desaparecimentos e execuções.
A pedido de organizações de direitos humanos, em 2009 o Parlamento chileno reabriu a Comissão da Verdade, recomendando a seus membros que tomassem, durante seis meses, novos testemunhos de vítimas. Mesmo com a nova contagem, organizações de direitos humanos estimam que há muitos casos de abusos sem ser contabilizados.
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Fonte da notícia veiculada no post: Raquel Duarte -
Sul21
Imagem do post: Henri Rousseau - Paisagem exótica com macacos e um papagaio, 1908.